O CLAMOR DE UM NECESSITADO
Gostariamos de sugerir (para uma melhor compreensão do texto), a leitura das passagens paralelas do texto de (Lucas Mt 20.29; Mc 10.46). Quantos cegos estavam presentes neste episódio, em Jericó? Será que temos aí uma contradição bíblica?
Na verdade, o que existe nestes textos correlatos não é uma contradição, mas sim uma informação complementar. A idéia que os textos nos passam é que havia mais de um cego, porém, Bartimeu protagonizou o diálogo e recebeu conseqüentemente a cura do Cristo.
O que você considera como cegueira? A falta de um nervo ótico sadio, ou em um sentido mais amplo, a incapacidade de ver? Essa pergunta se torna pertinente, pois dependendo da resposta, o número de cegos muda consideravelmente. Afirmamos isto nos valendo do dito popular: “o pior cego é aquele que não quer ver”.
Bartimeu é qualificado, obviamente, dentro da primeira classe de cegueira (a física), porém, se levarmos em consideração a capacidade de “enxergar”, aquelas coisas que estão para além da capacidade física, coisas que só podem ser visualizadas com a alma, então Bartimeu estaria mais próximo de outro dito da sabedoria popular: “quem tem olho em terra de cego, é rei”, ao qual nós talvez acrescentariamos que, se não é rei, ao menos se torna filho do Rei.
Suas palavras ao se aproximar de Jesus revelam que, apesar de ser cego, enxergou com nitidez a obra de arte que Deus pintou em Cristo, percepção de quem foi adestrado pela vida, e que mesmo em trevas, estava aberto para a visitação da “Luz do Mundo” (Jo 8.12).
Ele disse: “Filho de Davi, tem compaixão de mim”. Com esta frase, ele expressou algumas verdades latentes na sua alma, como por exemplo, o reconhecimento que Jesus era o Messias que viria da linhagem de Davi, coisa que muitos fariseus não conseguiram crer apesar de verem os sinais que por Jesus eram realizados e o conteúdo de suas palavras que expressavam o “espírito” da Lei.
E por último, Jesus condiciona o milagre à autenticidade da fé de Bartimeu (v. 40), pois quando a fé não é apenas uma arma da mente ou produto de uma confissão vazia de significados, mas sim a afirmação do que está no coração, então imediatamente os nossos olhos se abrem (v.42).
Até esta altura o povo estava atrás de Jesus (mas não o seguia), ouvindo seus ensinamentos (mas não guardando suas palavras), olhando na direção de Jesus (mas sem vislumbrar a presença de Deus). Mas diz o versículo 43: “e todo o povo vendo isso, dava louvores a Deus”.
Bartimeu era cego, cheio de limitações vivendo a margem da sociedade, sentia-se o pior, humilhado, rejeitado, era portador de uma deficiência física, mas pior do que a enfermidade física, eram as limitações que sofria em seu interior, sua alma estava abatida esmorecida, ferida pois vinha sofrendo várias afrontas.
O fato de ser um miserável, cego e pobre não o impediu de despojar-se do orgulho levando-o assim a se humilhar perante o Senhor Jesus.
Por mais que as pessoas o mandassem calar, mais ele clamava pelo Senhor, ele necessitava ser socorrido sabia que para ser visto e atendido necessitava clamar e pedir socorro.
Não olhando para as suas limitações, Bartimeu continuou com o firme propósito de clamar ao Senhor, não atentando para os sentimentos de dureza de coração dos opositores, egoísmo, resistência, soberba, orgulho, e perseguição.
E nós quantas vezes temos nos humilhado perante ao Senhor e clamado deixando de lado todos os preconceitos e amarras que nos prendem? Pense nisso!
O milagre na vida de Bartimeu ocasionou outro milagre em Jericó:
“A cura do mendigo sem-vista, serviu para curar um povo sem-visão”.